12 de abr. de 2013

Avaliação: nascida nas trilhas, nova Honda CRF 250L agrada também na cidade


Honda CRF250L (6)
Paro no semáforo ao lado de uma Yamaha XT 660R. Não demora para o condutor da big trail lançar um olhar “raio-x” na moto que estou pilotando, e disparar: “Nossa, mas ela não é muito agressiva, ruim pra andar na cidade?!”. Respondo que não se trata de uma legítima “cross”, e sim de uma trail diferenciada.

Porém, ele estava correto em uma parte: a nova Honda CRF 250L não é uma moto de proposta comum, pois parece ter escapado de uma trilha. Tampouco é conhecida no mercado. Lançada em 2012 no Japão e produzida na Tailândia, a “L”, do inglês leisure (lazer), é uma opção para quem roda no mato e até em pistas fechadas, mas não abre mão da praticidade do uso comum, em vias asfaltadas. É prática também para quem precisa colocar a moto em uma caçamba de picape ou levar de carretinha até o local de uso. Afinal, ela tem “corpinho” e suspensões de trail das boas. Mas pode ser emplacada, tem buzina, piscas e retrovisores. Nem mesmo trava-capacete faltou.
Honda CRF250L (3)
Embora possa ser confundida ou (bastante) comparada com a saudosa Honda Tornado 250, trata-se de uma moto que nasceu no uso fora-de-estrada, adaptada para o asfalto. Leia-se “mais off do que on”. Por R$ 18.490, atualmente, a concorrente mais próxima é a competente Yamaha Lander 250, de R$ 12.290.
A Honda foi atingida pela alta do IPI para as motos importadas de cilindrada mais baixa, que no final de 2012 saltou de 20% para pesados 35%. A alegação é de que se preferiu trazer a moto a um preço mais alto que o imaginado, do que não oferecer ao mercado brasileiro a nova opção da família CRF. Aliás, a 250 L se encaixa acima da 230 F carburada – que não pode ser emplacada. Mas está abaixo da CRF 250R, que custa cerca de R$ 30 mil e tem 40 cv, voltada ao uso profissional. Ou seja, preenche uma lacuna para o crescente público off-road.
Honda CRF250L (1)
Estilo topa-tudo
A Honda caprichou no acabamento da nova moto. A começar pelas carenagens e guidão, de qualidade, e os protetores das canelas da suspensão dianteira, passando pelos aros japoneses D.I.D. de alumínio; e chegando ao belo quadro de berço duplo. Embora pareça alumínio, é feito de aço reforçado. O compacto painel de cristal líquido agrada em visualização, mas poderia oferecer mais recursos. Parecido com o da Lander, poderia, assim como a Yamaha, agregar um conta-giros disposto em pequenas barras. Ficou devendo o mínimo, mas ao menos agrega indicador de gasolina, relógio e dois hodômetros parciais – além do total. Também faz falta um hodômetro tipo fuel trip, que indica a km rodada após se entrar na reserva do tanque.
Honda CRF250L (16)
Se por um lado a CRF deve em luxos, por outro não lhe falta poderio para encarar trilhas pesadas. As suspensões dianteiras invertidas de longo curso (250 mm) da Showa são um dos diferenciais, e oferecem ajustes. Pedem uso de chaves específicas, mas estão lá. Na traseira o belo “Pro-link” de alumínio parece ter sido feito para transpor o que vier pela frente, com 240 mm de curso. Interessante notar a vocação bem “off” da CRF: tudo é recuado de forma a acompanhar o quadro da moto, a exemplo do reservatório do fluido do freio traseiro e a lanterna traseira, quase que embutida na rabeta. Até mesmo os espelhos e manetes ficam paralelos ao largo guidão. Ou seja, se a moto cair na terra ou areia, pouca coisa tende a quebrar.
Honda CRF250L (26)
O banco, por sua vez, é curto e fino, de modo que o garupa sofrerá com a falta de espaço e as pedaleiras. Altas e recuadas, parecem improvisadas: são colocadas junto ao quadro sem suporte próprio. Também faz falta um bagageiro na longa rabeta. Mas, novamente, a premissa aqui é encarar o pior, e sozinho!
Mecânica esperta
Destaque agradável fica para o motor de 250 cm3 com refrigeração líquida. Similar ao da esportivinha CBR 250R, o monocilíndrico tem quatro válvulas e comandos independentes para admissão e escape, com balanceiros roletados. A injeção eletrônica foi remapeada de modo a entregar maior torque em baixos giros. Como de praxe, este multiválvulas da Honda consegue ser suave e elástico no uso urbano. Com torque máximo de 2,2 kgfm a 7.000 rpm, pede apenas que se eleve um pouco o giro para superar ladeiras e obstáculos. Em relação à CBR, o motor perdeu 3 cv por conta do filtro de ar mais restrito, feito para atuar em terrenos com muitos resíduos.
Honda CRF250L (38)
Os 23 cv a 8.500 rpm são suficientes para os 139 kg da CRF (a seco, sem líquido algum). Dotada de aceleração progressiva e rápida acima de 4.000 rpm, a moto revela rapidamente sua potência máxima. E “casa” bem com o escalonamento da transmissão de seis marchas, curtas e parecidas com as usadas pela antiga Tornado. Os engates do câmbio são justos e o manete de embreagem é macio.
Trata-se de um motor moderno, que atende às normas de emissões Euro 5. É portanto, econômico e pouco poluente. Sem abusos, pode-se superar médias de 25 km/l. Inclusive, isso ajuda na autonomia, já que o tanque é (bem) pequeno: 7,7 l. Também tem a vantagem de esquentar pouco, graças ao grande radiador de água com potente ventoinha elétrica.
Honda CRF250L (19)
A nova CRF encarou bem o trânsito de São Paulo. Magrinha e com bastante esterço do alto guidão, transpõe bem os espelhos dos carros e mostra-se esguia. A posição de pilotagem, bem ereta, agrada e não cansa mesmo para quem é mais baixo – são razoáveis 875 mm do assento ao chão. Com 255 mm de altura livre do solo e protetor plástico para o motor, a CRF encara trechos fora-de-estrada com maestria. As suspensões são firmes e, junto à ciclística bem elaborada, garantem agilidade em desvios rápidos e contra-esterços.
Rodando no asfalto, mostra a mesma disposição em curvas. Só não é melhor por conta dos pneus com cravos. Mal sente os obstáculos da “selva de pedra” e, na reta, foi possível chegar a 142 km/h – irreais, pelo painel. Poderia andar mais, mas de novo os pneus com cravos “roubam” o potencial de poder deslizar pela estrada. As frenagens são eficientes e bem moduladas, de modo que a dianteira mergulha pouco ao frear mais forte. O disco dianteiro de 256 mm traz pinça de pistão duplo e o freio traseiro não trava fácil, apesar do generoso diâmetro do disco (220 mm) e da potente pinça Nissin. Ambos têm formato auto-limpante em caso de pegar trechos com terra.
Honda CRF250L (7)
Para quem não é de encarar trilhas mais pesadas, a maior mudança a ser feita é trocar os pneus. Os cravos médios transmitem certa insegurança em desvios e curvas rápidas: a impressão é de estar “dançando” sobre os cravos. Que inclusive, gastam mais rápido em pisos de boa aderência. As medidas são comuns (120/80 R18 traseiro e 3” x 21” dianteiro) e, portanto, a conta da mudanças para pneus “asfálticos” não deve ficar muito alta. Para os trilheiros de carteirinha, basta usar pneus com cravos maiores e encurtar a relação final do câmbio usando uma coroa maior – com mais dentes.
Conclusão
A CRF 250L é daquelas motos que parecem aptas a encarar tudo sem “reclamar”. O visual bem acertado chama atenção positivamente e a proposta multiuso parece muito bem atendida. Com apenas uma opção de cor, vermelha, a nova Honda oferece garantia de um ano. Uma pena que o preço a torne um tanto distante do bolso de quem procura uma 250, em especial aqueles que desejam estrear sua primeira trail.
Honda CRF250L (4)
Por Guilherme Silveira
Fotos Rafael Munhoz exclusivo para o CARPLACE

Ficha técnica – Honda CRF 250L
Motor: monocilíndrico, 4 válvulas, 249 cm3, injeção eletrônica, gasolina, refrigeração líquida; Potência: 23 cv a 8.500 rpm; Torque: 2,2 kgfm a 7.000 rpm; Transmissão: câmbio de seis marchas, transmissão por corrente; Quadro: berço semiduplo de aço; Suspensão: garfo telescópico invertido na dianteira (250 mm de curso) e monoamortecida Pro-Link (240 mm de curso) na traseira; Freios: disco na dianteira (256 mm) e na traseira (220 mm); Peso: 139 kg; Capacidades: tanque 7,7 litros; Dimensões: comprimento 2,195 mm, largura 815 mm, altura 1,195 mm, altura do assento 875 mm, entreeixos 1,445 mm

Disponível no(a):http://carplace.virgula.uol.com.br

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